Por Equipe CMV – Revisão final Andressa França 16/09/21
O citomegalovírus humano (CMV), é um vírus pertencente à família herpesviridae, assim como o Epstein-Barr (EBV), o vírus herpes simplex (HSV) 1 e 2, o vírus varicela-zoster (VZV), entre outros herpesvírus. O CMV possui um genoma de DNA de fita dupla localizado no interior de um capsídeo proteico icosaédrico e um envelope viral, visualizado e isolado pela primeira vez em 1957. Assim como os outros vírus que constituem esta família, possui propriedades biológicas de latência e reativação, que podem causar infecções recorrentes. A infecção pelo CMV é uma das infecções virais mais comuns em todo o mundo, podendo ser transmitida através do contato com fluidos corporais infectados, tais como saliva, urina, sangue ou secreções genitais. Além disso, pode haver duas outras formas de transmissão, sendo a primeira a transmissão horizontal que ocorre através da transfusão de órgãos e sangue contaminados, e a segunda a transmissão vertical que se dá durante a gestação, por via transplacentária, no momento do parto ou, de maneira menos frequente, no período pós-natal (via leite materno).
O CMV é um vírus que infecta pessoas de idades, raças e grupos étnicos variados, pessoas de diferentes contextos socioeconômicos, culturais e geográficos. A prevalência do vírus na população é variável, apresentando uma soroprevalência de 30-97%, sendo que no Brasil alguns estudos apontam uma taxa superior a 90%. Na maior parte das pessoas a doença se apresenta de uma maneira assintomática ou cursa como um quadro viral autolimitado e benigno, contudo, pode causar doença grave em pacientes imunossuprimidos, como transplantados, ou pacientes em tratamento de doenças autoimunes, gestantes e recém-nascidos.
A transmissão vertical ocorre em aproximadamente 0,2% a 2,5% dos recém-nascidos e apenas 10% a 15% destes apresentam sintomas, sendo a maior parte, como relatado anteriormente, assintomáticos. A taxa de mortalidade nos recém-nascidos que apresentam a doença em sua forma grave pode chegar a 30%. Os sinais clínicos mais comuns neste grupo de pacientes são petéquias, icterícia e hepatomegalia. Além destes, podem apresentar sinais neurológicos que se manifestam de maneira menos específicas, sendo eles microcefalia, hipotonia (diminuição do tônus muscular) com sonolência, dificuldade de sucção, espasticidade (paralisia), hemiparesia (paralisia parcial de um lado do corpo), convulsões, perda auditiva e distúrbios visuais. Em adição, também podem manifestar coriorretinite (processo inflamatório ocular), problemas pulmonares e baixo peso no nascimento.
Existem duas estratégias principais para a detecção da infecção pelo CMV, que consistem na pesquisa do material genético do vírus através da técnica de reação em cadeia da polimerase em tempo real (qPCR) e a marcação de antígeno específico para o CMV, chamada de antigenemia. Contudo, existem outras metodologias utilizadas que se mostram menos sensíveis e específicas, tais como isolamento viral em culturas celulares e pesquisa de sorologia IgG/IgM.
A detecção de ácido nucléico viral pelo método de qPCR em espécimes clínicos (sangue periférico, urina, líquor, saliva, líquido amniótico) vem sendo amplamente utilizada nos últimos anos por apresentar sensibilidade superior às outras metodologias apresentadas. Além de fornecer resultados qualitativos e quantitativos (carga viral), permite maior flexibilidade com as amostras biológicas, pois tem-se a possibilidade de armazenar a amostra em temperatura de -20°C até o momento do processamento sem apresentar perda da sensibilidade no teste.
A detecção da infecção do CMV precoce nos recém-nascidos permite uma avaliação periódica da audição e visão, a fim de prevenir perda auditiva e alterações no desenvolvimento. Alguns estudos apontam que crianças que tiveram a detecção do CMV e que fazem o uso do ganciclovir, um dos antivirais utilizados para o tratamento da infecção pelo CMV, têm uma menor incidência da perda auditiva e alterações no desenvolvimento.
Em conclusão, o principal foco de prevenção da infecção pelo CMV em recém-nascidos se dá, principalmente, por meio da instrução de mulheres gestantes soronegativas sobre o risco da primoinfecção (primeira infecção), mas também da instrução de mulheres soropositivas, com risco de reinfecção com novas cepas virais. Uma das principais medidas de prevenção inclui a lavagem das mãos após contato com urina e saliva de crianças, visto que estas constituem os principais reservatórios do vírus, além das orientações para prevenção da transmissão por contato sexual ou contato direto pessoa-pessoa (saliva).
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