Febre Maculosa: tudo o que você precisa saber!

Médico auscultando paciente.

Em junho de 2023 fomos surpreendidos com notícias de um surto de febre maculosa em Campinas, cidade do interior de São Paulo. Muitas pessoas jamais haviam ouvido falar dessa doença, mas, na verdade, ela acontece com certa frequência no Brasil.

A febre maculosa é uma infecção causada pela bactéria Rickettsia rickettsii e transmitida pela picada do carrapato estrela. Ela é perigosa e possui alta taxa de letalidade. Desde 2007, foram registrados mais de 2.500 casos da infecção no país, que resultaram em 931 mortes.

Neste artigo, você vai saber o que é a febre maculosa, quais seus riscos e como se prevenir da doença.

Acompanhe!

Febre maculosa: o que é quais os seus riscos?

A febre maculosa é uma doença infecciosa causada pela bactéria Rickettsia rickettsii e  transmitida aos humanos principalmente por meio da picada dos carrapatos Amblyomma cajennense e Amblyomma sculptum , também chamados de carrapato estrela.

A doença pode se manifestar de forma leve ou grave. No entanto, possui uma elevada taxa de letalidade. Segundo dados do Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde, foram confirmados 2.545 casos da doença no Brasil entre 2007 e junho de 2023. Desses, 931 foram a óbito. A região sudeste concentra a maior parte dos casos e óbitos causados pela infecção.

Os principais sintomas associados à febre maculosa são:

  • 👉 Febre alta repentina;
  • 👉 Dor de cabeça intensa;
  • 👉 Calafrios;
  • 👉 Náuseas e vômitos.
  • 👉 Diarreia e dor abdominal.
  • 👉 Dor muscular constante;
  • 👉 Dor nas articulações;
  • 👉 Inchaço e vermelhidão nas palmas das mãos e sola dos pés;
  • 👉 Erupções cutâneas, semelhantes a picadas de pulga, que se espalham pelo corpo inteiro, inclusive nas palmas das mãos, braços e sola dos pés.

Se não diagnosticada e tratada de forma precoce, a infecção pode evoluir rapidamente e causar graves complicações ao organismo, como: 

  • 👉 Comprometimento dos vasos sanguíneos e inflamação dos tecidos, o que pode levar a problemas cardíacos, como insuficiência cardíaca, arritmias e vasculite.
  • 👉 Pneumonia e dificuldades respiratórias devido ao comprometimento dos pulmões.
  • 👉 Problemas neurológicos, pois a infecção pode se espalhar para o sistema nervoso central, causando meningite e encefalite.
  • 👉 Danos renais, provocando insuficiência renal aguda.

Como se pega?

Como dissemos, a febre maculosa é transmitida através da picada do carrapato estrela infectado com a bactéria Rickettsia rickettsii, encontrado em animais de grande porte (como bois e cavalos), além de cães, aves domésticas, gambás, coelhos e especialmente na capivara.

Por isso, a transmissão ocorre principalmente em locais onde há vegetação densa, grama alta e próximas a rios, como locais de mata, florestas, fazendas, trilhas ecológicas etc.

Para transmitir a doença, o carrapato precisa ficar pelo menos 4 horas grudado na pele da pessoa. Os micuins – carrapatos menores e mais jovens – são mais perigosos, pois são difíceis de serem localizados. É importante ressaltar que a febre maculosa não é transmitida diretamente de pessoa para pessoa. A transmissão ocorre apenas através da picada de carrapatos infectados.

O período de incubação da bactéria no organismo humano varia de 2 a 14 dias, enquanto as manchas vermelhas pelo corpo costumam surgir entre o segundo e sexto dia. 

Como os sintomas da febre maculosa são parecidos com os de outras doenças infecciosas – como dengue, chikungunya ou leptospirose – seu diagnóstico é desafiador, principalmente nos primeiros dias da infecção.

Por isso, é importante estar atento às manifestações iniciais dos sintomas e buscar atendimento médico imediatamente. Assim como é fundamental que o paciente avise ao profissional de saúde que esteve em áreas consideradas de risco, como as citadas acima (áreas de mata) ou tenha achado um carrapato em seu corpo, ou tido contato próximo com animais que carregam carrapatos, como  capivaras cavalos, bois e cachorros. 

Dessa forma, o médico poderá realizar a avaliação dos sintomas juntamente com as informações fornecidas pelo paciente, e assim solicitar exames que possam confirmar o diagnóstico e iniciar o tratamento de forma imediata. 

Os principais testes laboratoriais para diagnóstico da Febre Maculosa  são:

  • 🔶 Sorologia: Os testes sorológicos, especificamente a reação de imunofluorescência indireta, buscam detectar a presença de anticorpos contra a Rickettsia rickettsii no sangue do paciente. Isso é feito através da coleta de uma amostra de sangue. É importante ressaltar que a confirmação do diagnóstico necessita de duas testagens: uma na fase aguda da doença (entre  7o ao 10o dia) e outra entre 14 a 21 dias após a primeira testagem.
  • 🔶 Imunohistoquímica: detecta a bactéria em amostras de tecidos obtidas a partir de biópsia de lesões de pele. Método de alta sensibilidade para a confirmação da doença em sua fase inicial.
  • 🔶 Cultura: a bactéria é isolada do sangue (hemocultura), fragmentos de tecido, fragmentos de órgãos ou até do próprio carrapato retirado do paciente. A bactéria é cultivada e identificada após alguns dias. 
  • 🔶 Reação em cadeia da polimerase (PCR): A PCR é uma técnica de biologia molecular que busca identificar o material genético da bactéria Rickettsia rickettsii no sangue ou em outras amostras do paciente, como tecidos de biópsia. Esse método é mais sensível e pode permitir o diagnóstico precoce da infecção, além de permitir a identificação com exatidão da espécie presente na amostra. A obtenção das amostras deve ser, preferencialmente, nos primeiros 5 dias de doença.

Como ressaltado acima, o tratamento para febre maculosa deve ser iniciado de forma imediata, mesmo antes dos resultados laboratoriais. 

Como a doença possui um alto índice de complicações e letalidade, o tratamento deve ser instituído diante da suspeita clínica, caracterizada pelos sintomas e exposição de risco.

Segundo o Ministério da Saúde, o início precoce do tratamento diminui as chances de complicações relacionadas à doença. Apesar da gravidade, a infecção pode ser tratada com sucesso com uso de  antibióticos, como a doxiciclina. 

Por que a febre maculosa é tão perigosa?

Como vimos acima, a febre maculosa possui elevada taxa de letalidade e muitos casos acabam evoluindo de forma severa e levando ao óbito do paciente. Essa alta letalidade da infecção pode ser explicada por alguns fatores. Entre eles:

Dificuldade no diagnóstico

A febre maculosa é uma infecção de difícil diagnóstico. Isso porque os sintomas iniciais da doença podem ser facilmente confundidos com outras doenças febris agudas, como a dengue ou leptospirose. 

Dessa forma,  é fundamental avisar ao médico que o paciente esteve em áreas consideradas de risco, como locais de mata. A dificuldade no diagnóstico atrasa o início do tratamento, e eleva o risco de óbito.

Evolução rápida dos sintomas

A bactéria Rickettsia rickettsii, presente no carrapato estrela infectado, provoca sintomas que surgem de forma repentina e podem evoluir  de maneira  rápida no organismo. 

Tratamento tardio

A demora para iniciar o tratamento pode ser fatal para o paciente com febre maculosa. Geralmente, a infecção é tratada com antibióticos, como a doxiciclina. No entanto, segundo o Ministério da Saúde, o tratamento deve ser iniciado precocemente, de preferência, em até 5 dias do início dos sintomas, para que o risco de complicações seja reduzido.  Por isso, o tratamento é recomendado antes mesmo da confirmação do diagnóstico.

Comprometimento do organismo

A febre maculosa pode causar graves complicações ao organismo, atingindo os sistemas cardiovascular, respiratório, excretor, digestivo e nervoso. Como resultado, a bactéria pode provocar quadro de sepse, popularmente conhecida como “infecção generalizada”.

Isso acontece porque a resposta inflamatória desencadeada pela infecção é exacerbada, o que contribui para a gravidade da doença e o risco de complicações.

Como é possível prevenir?

A prevenção da febre maculosa tem o objetivo principal de evitar o contato com o carrapato infectado com a bactéria Rickettsia rickettsii. Os casos da doença ocorrem com mais frequência entre os meses de junho e novembro, quando os micuins são predominantes.

Dessa forma, as principais medidas que devem ser adotadas como prevenção contra a febre maculosa são:

1. Evite áreas de infestação

Se possível, evite frequentar áreas onde há infestação de carrapatos, assim como locais com vegetação ou grama alta, arbustos densos, etc. Caso não seja possível, verifique o corpo a cada duas horas a fim de encontrar algum carrapato preso. 

Quanto mais rápido ele for removido do corpo, menores são as chances de infecção. 

2. Utilize roupas de proteção adequadas

Ao visitar locais que podem ser propícios para a presença de carrapatos, utilize roupas claras para facilitar sua identificação no tecido. Além disso, as vestimentas devem  cobrir a maior parte do corpo, como blusas e camisas de manga longa, calças e botas. De preferência, coloque a parte inferior da calça dentro das botas e  meias, minimizando o risco de exposição da área.

3. Use repelentes de insetos

O uso de repelentes, principalmente aqueles com concentração maior do produto químico DEET (N-N-dietil-meta-toluamida), contribuem para evitar a infestação por carrapatos.Os repelentes devem ser aplicados em áreas de pele expostas e sobre as roupas. 

4. Verifique os animais de estimação

Alguns animais de estimação, como os cachorros, podem ser alvos de carrapatos e, consequentemente, levá-los para dentro de casa. Por isso, caso seu pet tenha passado por algum local de risco, é fundamental verificar a presença de carrapatos e consultar um veterinário para o possível uso de carrapaticidas.

5. Remova carrapatos do corpo adequadamente

Caso encontre um carrapato preso ao corpo, é necessário fazer a remoção de forma adequada. Para isso, utilize uma pinça para segurá-lo o mais próximo possível da pele e puxe-o suavemente, com firmeza e cuidado, por meio de uma leve torção, para que sua boca solte a pele. 

Não esmague o carrapato com a unha, pois isso faz com que ele libere bactérias. Também não utilize agulha ou palito de fósforo quente – como fazem algumas pessoas – para que ele não libere saliva, o que pode aumentar as chances de transmissão das bactérias.

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