Impacto das vacinas na redução do uso de antibióticos: Perspectivas e benefícios para a saúde global

A resistência antimicrobiana (RAM) compromete gravemente a eficácia  dos tratamentos de infecções causadas por bactérias, vírus, fungos e parasitas, de acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). A RAM ocorre quando microrganismos sofrem mutações em resposta ao uso de antimicrobianos, tornando-se  resistentes e dificultando o tratamento das infecções causadas pelos mesmos. Esse fenômeno leva a infecções persistentes, aumentando o risco de transmissão e representando uma crescente ameaça à saúde pública global.
O fenômeno da resistência é estimulado  pelo uso indevido e excessivo de antimicrobianos. Ao mesmo tempo, muitas pessoas em todo o mundo ainda não têm acesso a antimicrobianos essenciais. Todos os anos, cerca de 5 milhões de mortes estão associadas à RAM.
Nesse contexto, as vacinas surgem como uma ferramenta poderosa para reduzir o uso de antibióticos e conter o avanço da RAM. Ao prevenir infecções bacterianas, as vacinas diminuem a necessidade de tratamento com antibióticos, o que reduz a incidência de resistência ao longo do tempo. Essa abordagem preventiva não só protege os indivíduos contra doenças específicas, mas também promove práticas sustentáveis de saúde pública, preservando a eficácia dos tratamentos antimicrobianos para as futuras gerações.

O relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), intitulado Estimating the Impact of Vaccines in Reducing Antimicrobial Resistance and Antibiotic Use, avalia o impacto de 44 vacinas direcionadas a 24 patógenos — incluindo 19 bactérias, quatro vírus e um parasita — na contenção de infecções resistentes a medicamentos. O uso ampliado de vacinas poderia reduzir em até 22% ao ano o consumo de antibióticos no mundo, o equivalente a cerca de 2,5 bilhões de doses a menos anualmente. Essa diminuição seria um avanço significativo nos esforços globais de combate à RAM.
Estudos indicam que vacinas já em uso contra pneumonia pneumocócica, Haemophilus influenzae tipo B (Hib) e febre tifóide podem prevenir até 106 mil mortes anuais relacionadas à RAM. Além disso, novas vacinas em desenvolvimento, como as contra tuberculose (TB) e Klebsiella pneumoniae, poderiam evitar outras 543 mil mortes por ano associadas à resistência antimicrobiana. Embora as vacinas contra TB estejam em fase de ensaios clínicos, o desenvolvimento da vacina contra Klebsiella pneumoniae ainda se encontra em estágio inicial.
Indivíduos vacinados têm menor probabilidade de contrair infecções e de sofrer complicações de infecções secundárias, que muitas vezes requerem antimicrobianos e internação hospitalar, reduzindo assim a pressão sobre os sistemas de saúde. Atualmente, os custos globais com o tratamento de infecções resistentes ultrapassam US$ 730 bilhões anuais.
A vacina contra Streptococcus pneumoniae (pneumococo) poderia poupar cerca de 33 milhões de doses de antibióticos por ano, caso a meta de imunizar 90% das crianças globalmente até 2030 seja alcançada, segundo dados da OMS. Para potencializar esse impacto, é essencial que adultos em faixas etárias mais avançadas também sejam vacinados.
Para a malária causada por Plasmodium falciparum, a imunização poderia evitar o uso inadequado de até 25 milhões de doses de antibióticos, que frequentemente são administrados de forma errônea no tratamento da doença.
As vacinas previnem a RAM por meio de múltiplos mecanismos. Em primeiro lugar, ao reduzir a incidência de infecções causadas por patógenos suscetíveis e resistentes, as vacinas diminuem o número de casos, óbitos e custos associados ao tratamento dessas infecções. Em segundo lugar, elas ajudam a prevenir infecções secundárias, como as por Streptococcus pneumoniae após uma infecção inicial por gripe. Em terceiro lugar, quando uma parcela significativa da população é vacinada, a imunidade coletiva protege até aqueles que não foram imunizados. Finalmente, ao prevenir infecções, as vacinas reduzem a necessidade de antibióticos, um dos principais fatores de desenvolvimento da RAM. Por isso, se faz necessário incentivar o desenvolvimento de vacinas por meio de incentivos públicos e privados, além de estimular que a população faça uso das vacinas já disponíveis, como forma de prevenção individual e coletiva contra as doenças imunopreveníveis e também contra a grande ameaça da resistência microbiana aos antibióticos. 

Referências:

ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE. Resistência antimicrobiana. Disponível em: https://www.paho.org/pt/topicos/resistencia-antimicrobiana. Acesso em: 6 nov. 2024.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. The role of vaccines in reducing antimicrobial use: findings from a WHO-hosted global consultation. Genebra: OMS, 2023. Disponível em: https://www.who.int/publications/i/item/9789240098787. Acesso em: 6 nov. 2024.

HASSO-AGOPSOWICZ, Mateusz; SPARROW, Erin; CAMERON, Alexandra Meagan; SATI, Hatim; SRIKANTIAH, Padmini; GOTTLIEB, Sami; BENTSI-ENCHILL, Adwoa; LE DOARE, Kirsty; HAMEL, Maria; GIERSING, Birgitte K.; HAUSDORFF, William P. The role of vaccines in reducing antimicrobial resistance: A review of potential impact of vaccines on AMR and insights across 16 vaccines and pathogens. Elsevier, v. 42, n. 19, suplemento 1, 25 jul. 2024. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0264410X24006765?via%3Dihub. Acesso em: 6 nov. 2024.

FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ (Fiocruz). Vacinas podem reduzir uso de antibióticos em 2 e meio – 5 bilhões de doses anualmente, diz OMS. Disponível em: https://cee.fiocruz.br/?q=Vacinas-podem-reduzir-uso-de-antibi%C3%B3ticos-em-2-e-meio-5-bilhoes-de-doses-anualmente-diz-OMS. Acesso em:  6 nov. 2024.

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