Modelo do queijo suíço para SARS-CoV-2: a coletividade tem a força

Por Marianna Kunrath Lima 14/05/2021

Você já viu a ilustração deste artigo em algum lugar? Com a explosão da pandemia do novo coronavírus, vários cientistas reviveram o conceito do modelo do queijo suíço. Este conceito foi originalmente criado por James T. Reason, um psicólogo cognitivo, agora professor emérito da Universidade de Manchester (Inglaterra), em 1990. No livro “Human Error”, após analisar o desenrolar de grandes desastres, como por exemplo Chernobyl, o psicólogo criou o “modelo de queijo suíço para acidentes”, com os buracos das fatias de queijo representando os erros que levaram a efeitos adversos. O Dr. Reason foi guiado por duas noções: “A metáfora biológica ou médica dos patógenos e o papel central desempenhado pelas defesas, barreiras, controles e salvaguardas (análogo ao sistema imune do corpo).” Este modelo foi utilizado durante anos por analistas de segurança das mais diversas áreas, incluindo aviação e medicina. 

Em 2020, o virologista Ian M. Mackay (Universidade de Queensland, Austrália) viu uma versão resumida do modelo no Twitter e resolveu fazer sua própria versão, adicionando mais fatias e mais informações. Juntamente com colaboradores de todo o mundo, o Dr. Mackay elaborou o conceito para as pandemias de vírus respiratórios, baseado na pandemia do SARS-CoV-2. Desde então, a figura do queijo suíço alcançou grande circulação, tendo sido traduzida para várias línguas (disponível no site https://virologydownunder.com/the-swiss-cheese-infographic-that-went-viral/).

O que o modelo nos mostra? Cada fatia de queijo representa algum tipo de intervenção que pode ser feita para impedir a disseminação de vírus respiratórios pandêmicos. Estas intervenções envolvem tanto responsabilidades pessoais, que são deveres de cada indivíduo, como o uso de máscaras, higiene das mãos e distanciamento social, quanto responsabilidades compartilhadas, que são deveres da sociedade e dos governos, como respeitar a quarentena quando estiver contaminado e a disponibilização de vacinas. Essas fatias possuem imperfeições, representadas pelos buracos existentes em cada uma. Estas imperfeições são geradas por falhas nas intervenções (muitas vezes causadas pelo “rato da desinformação”, que rói o queijo), por exemplo, quando alguém aperta a mão de outra pessoa, esquece de lavar a mão e coça o rosto sem máscara, aumentando as chances de se contaminar. Por isso não podemos confiar em apenas um tipo de intervenção, nenhuma delas é perfeita, o conjunto de intervenções que aumenta a probabilidade de sucesso no impedimento da propagação dos vírus. O modelo do queijo suíço de defesa contra pandemias de vírus respiratórios, portanto, nos mostra que para frear a disseminação de SARS-CoV-2 é necessário um esforço coletivo, de cada indivíduo em sua rotina, bem como de governos locais na condução de políticas públicas e a cooperação global entre diferentes nações. É importante destacar que as vacinas, às vezes consideradas como uma intervenção capaz de acabar com o vírus, sozinhas não irão bloquear a proliferação do vírus. 

Referências:

The Swiss Cheese Model of Pandemic Defense. The New York Times. https://www.nytimes.com/2020/12/05/health/coronavirus-swiss-cheese-infection-mackay.html

Virology Down Under. Disponível em: https://virologydownunder.com/the-swiss-cheese-infographic-that-went-viral/

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Revisão: v2 (31/05/2022)