Por Sílvia Helena Sousa Pietra Pedroso 30/04/2021
A resistência bacteriana aos antimicrobianos é considerada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como uma das dez ameaças de saúde pública para as próximas décadas, sendo considerada como um dos problemas emergentes mais graves em todo o mundo. Segundo dados do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC), cerca de 700.000 pessoas morrem por ano em decorrência de infecções causadas por “superbactérias”, que são micro-organismos multirresistentes aos antimicrobianos utilizados na prática clínica, inclusive aos fármacos de última escolha para o seu tratamento. Entre os micro-organismos gram-negativos mais descrito como superbactérias, pode-se destacar Acinetobacter baumanii e entre os gram-positivos; Staphylococcus epidermidis, Staphylococcus aureus e Enterococos.
Nos últimos anos, houve um aumento da resistência a antimicrobianos visualizados em micro-organismos isolados tanto do ambiente hospitalar como da comunidade. Dentre os micro-organismos multirresistentes isolados do ambiente hospitalar, podemos citar Acinetobacter baumanii resistente aos carbapenêmicos e Escherichia coli produtora de beta-lactamases de espectro estendido (ESBL). Com relação aos isolados da comunidade, pode-se citar Neisseria gonorrhoeae, Enterobactérias, Mycobacterium tuberculosis e Streptococcus.
Tal fato é de extrema preocupação, uma vez que conduz à terapias mais complexas, de maior custo e com maior período de internação principalmente de pacientes imunocomprometidos, como recém-nascidos e pacientes oncológicos nos hospitais. Ademais, as linhagens multirresistentes isoladas podem ser transmitidas de um ambiente para outro amplificando o impacto das superbactérias, como visualizado na figura abaixo.
As linhagens multirresistentes advindas da comunidade podem ser transmitidas nos ambientes hospitalares, onde encontram hospedeiros mais imunodebilitados; assim como as linhagens selecionadas por terapias antimicrobianas nos hospitais podem ser transmitidas para a comunidade.
Periodicamente, a OMS classifica os agentes patogênicos prioritários resistentes aos antimicrobianos. A lista tem como objetivo orientar e promover a pesquisa e desenvolvimento de novos antimicrobianos, como parte dos esforços da OMS para enfrentar a crescente resistência global aos medicamentos antimicrobianos. A recente lista abriga os seguintes micro-organismos:
Patógenos de prioridade 1 (crítica):
- Acinetobacter baumannii, resistente a carbapenema;
- Pseudomonas aeruginosa, resistente a carbapenema;
- Enterobacteriaceae, resistente a carbapenema, produtoras de ESBL.
Patógenos de prioridade 2 (alta):
- Enterococcus faecium, resistente à vancomicina;
- Staphylococcus aureus, resistente à meticilina, com sensibilidade intermediária e resistência à vancomicina;
- Helicobacter pylori, resistente à claritromicina;
- Campylobacter spp., resistente às fluoroquinolonas;
- Salmonellae, resistentes às fluoroquinolonas;
- Neisseria gonorrhoeae, resistente a cefalosporina, resistente às fluoroquinolonas.
Patógenos de prioridade 3 (média):
- Streptococcus pneumoniae, sem sensibilidade à penicilina;
- Haemophilus influenzae, resistente à ampicilina;
- Shigella spp., resistente às fluoroquinolonas.
No entanto, a ação isolada do desenvolvimento de novos antimicrobianos não resolve a problemática atual, uma vez que para combater o desenvolvimento de resistência aos antimicrobianos é imprescindível que haja esforços interdisciplinares dos profissionais de saúde para a utilização racional de antimicrobianos, assim como a vigilância genômica das linhagens resistentes tanto no âmbito hospitalar, como o da comunidade. Sem ações conjuntas não haverá redução das estimativas de mortalidade mundiais. Nesse cenário, emerge a proposta “One Health” que foi estabelecida em 2008 pela Organização Mundial de Saúde, Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura e a Organização Mundial de Saúde Animal. A abordagem entende que a saúde humana está intimamente relacionada à saúde animal e a relação com o ecossistema. Nesse contexto, as ações que tangem à questão da contenção do desenvolvimento de resistência a antimicrobianos pelos micro-organismos engloba esforços em diversas áreas, como pecuária, agricultura, saúde e em todos os outros setores onde pode-se prescrever a utilização de antimicrobianos.
Referências:
GALES, A.C; BISPO, P.; DOI, A. Resistência bacteriana: o grande desafio mundial de saúde pública. Webinar. Universidade de Blumenau, 2020.